quarta-feira, 28 de outubro de 2009




Do que ainda não te disse, dificilmente o conseguirei expressar sorrindo com toda a minha alegria contagiante, ao me defrontar com a morte de tudo aquilo a que chamávamos " somos diferentes". Somos corpos contaminados pela, escuridão, vazio, pelo silencio permanente. Fomos ... somos ... seremos sonhos interrompidos, fomos frases nunca ditas, tornamos-nos "desgaste" Triste é a procura da sepultura onde depositar eternamente os espojos de nós, que ainda consigo manter vivos, que sinto no pulsar do meu peito, onde ainda correm vivos nas minhas veias. Não é uma morte cerebral porque ainda te penso, ainda te cheiro ...nas partícula ordoríferas que me trazem momentos à memoria de sorrisos ... olhares ... cumplicidade ... compreensão, deixaste-as suspensas no ar para que agora ainda te respirasse nesta sofredora morte lenta. Morreremos longe, a distancia é o lugar mais próximo e de maior proximidade ... tenho-te por perto, amando-te todas as manhãs num lugar cheio de saudade esse é um lugar também ele um lugar feliz, onde me descreves viva, onde me contas uma historia sem que me grites uma mentira, onde és feliz [Só para nós dois "Dir-te-ia que os momentos vividos em plena felicidade rapidamente me transformam na mais profunda infelicidade" fizeste-me chorar mas jamais te direi porquê] ... onde sei que dás preferência ao ballet do que ao teatro, pois seria interessante saber todos aqueles passos, aqueles como se diz? ... Démi Plié, Petitt Batteman ? ... de num acto de tentar ser uma bailarina amadora danço torta mas sorridente em bicos dos pés porque em pontas seria fractura certa, sorrindo-te sorrindo-te envergonhada mas sorrindo-te porque também sei aprender qualquer coisa mesmo que seja para te ver sorrir [feliz por instantes]. Nesse lugar feliz teríamos que construir uma adega ... eu confesso que dou preferência ao vinho alentejano , e não me chames esquisita "e lá estas tu a queixar-te só sabes queixar-te"... mas são origens, são raízes são preferências... sorrindo-te... há tanta coisa no mundo dos vivos , no mundo que ainda me mantém viva, lá há esperança, lá consigo encontrar força...
Há alturas que merecem silencio, que com ele sangram mas nunca lhe deixe que a morte se aproxime . que o cansaço nos faça acertar o passo para consigamos encontrar o rumo, porque ambos sabemos que há uma coisa na vida que não se pode mendigar... o amor.
Entre o meu corpo e o teu há uma vaga ou o abismo? [Secret@]

Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca porque metade de mim é o que eu grito mas a outra metade é silêncio. Que a música que ouço ao longe seja linda ainda que tristeza que a mulher que amo seja pra sempre amada mesmo que distante porque metade de mim é partida mas a outra metade é saudade. Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos porque metade de mim é o que ouço mas a outra metade é o que calo. Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço e que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada porque metade de mim é o que penso mas a outra metade é um vulcão. Que o medo da solidão se afaste e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável que o espelho reflita em meu rosto num doce sorriso que eu me lembro ter dado na infância porque metade de mim é a lembrança do que fui a outra metade não sei. Que não seja preciso mais do que uma simples alegria pra me fazer aquietar o espírito e que o teu silêncio me fale cada vez mais porque metade de mim é abrigo mas a outra metade é cansaço. Que a arte nos aponte uma resposta mesmo que ela não saiba e que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer porque metade de mim é plateia e a outra metade é canção. E que a minha loucura seja perdoada porque metade de mim é amor e a outra metade também.

Oswaldo Montenegro




terça-feira, 27 de outubro de 2009





Talvez ela procure o inexistente, para que melhor perceba o espaço onde crescem as raízes que cruzaram os limites da realidade e ultrapassam a fronteira dos sonhos. Tudo seria mais simples se ele a amasse em vez de se converter num semeador de segredos.[Secret@]

- Tu disseste que eu tenho medo, Michel. Sim, tenho medo porque quero que me ames, mas ao mesmo tempo também já não quero que me ames. Sabes, eu sou muito independente.
- E depois? Eu amo-te, mas não como tu pensas.
- Então como?
- Não como tu pensas.
- Tu não sabes o que eu penso. Não sabes em que estou a pensar.
- Sei.
- Não, é impossível. Gostava de saber o que se passa na tua cabeça. Estou a olhar para ti há dez minutos e não sei nada, absolutamente nada. Não estou triste, mas tenho medo.
- querida doce Patrícia!
..
(...)
.
- Vamos dormir?
- Sim.
- Dormir é triste. O sono obriga as pessoas a separarem-se. Diz-se "dormir juntos", mas não é verdade'.

O Acossado - Jean-Luc Godard








quinta-feira, 22 de outubro de 2009




[ Um bom modo de estar]

domingo, 18 de outubro de 2009




Ainda insisto em riscar o chão de giz. Desenhar o nosso caminho onde duas linhas são paralelas e nunca se juntam. Porque cada um de nós sabe onde é o porto de abrigo, porque cada um de nós sabe onde acalmar a nossa fome, porque cada um de nós sabe onde receber um sorriso.
Somos um calendário que se vai riscando a giz.
[Secret@]

E eu quero brincar às escondidas contigo e dar-te as minhas roupas e dizer que gosto dos teus sapatos e sentar-me nos degraus enquanto tu tomas banho e massajar o teu pescoço e beijar-te os pés e segurar na tua mão e ir comer uma refeição e não me importar se tu comes a minha comida e encontrar-me contigo no Rudy e falar sobre o dia e passar à máquina as tuas cartas e carregar as tuas caixas e rir da tua paranóia e dar-te cassetes que tu não ouves e ver filmes óptimos, ver filmes horríveis e queixar-te da rádio e tirar-te fotografias a dormir e levantar-me para te ir buscar café e brioches e folhados e ir ao Florent beber café à meia-noite e tu a roubares-me os cigarros e a nunca conseguir achar sequer um fósforo e falar-te sobre o programa de televisão que vi na noite anterior e levar-te ao oftalmologista e não rir das tuas piadas e querer-te de manhã mas deixar-te dormir um bocado e beijar-te as costas e tocar na tua pele e dizer quanto gosto do teu cabelo dos teus olhos dos teus lábios do teu pescoço dos teus peitos do teu rabo do teu e sentar-me nos degraus a fumar até o teu vizinho chegar a casa e se sentar nos degraus a fumar até tu chegares a casa e preocupar-me quando estás atrasada e ficar surpreendido quando chegas cedo e dar-te girassóis e ir à tua festa e dançar até ficar todo negro e pedir desculpas e olhar para as tuas fotografias e desejar ter-te conhecido desde sempre e ouvir a tua voz no meu ouvido e sentir a tua pele na minha pele e ficar assustado quando estás zangada e um dos teus olhos vermelho e o outro azul e o teu cabelo para a esquerda e o teu rosto para oriente e dizer-te que és lindíssima e abraçar-te quando estás ansiosa e amparar-te quando estás magoada e querer-te quando te cheiro e ofender-te quando te toco e choramingar quando estou ao pé de ti e choramingar quando não estou e babar-me para o teu peito e cobrir-te à noite e ficar frio quando me tiras o cobertor e quente quando não o fazes e derreter-me quando sorris e desintegrar-me quando te ris e não compreender por que é que pensas que eu te estou a deixar quando eu não te estou a deixar e pensar como é que tu podes achar que eu alguma vez te podia deixar e pensar em quem tu és mas aceitar-te na mesma e contar-te sobre o rapaz da floresta encantada de árvores anjo que voou por cima do oceano porque te amava e escrever-te poemas e pensar por que é que tu não acreditas em mim e ter um sentimento tão profundo que para ele não existem palavras e querer comprar-te um gatinho do qual teria ciúmes porque teria mais atenção que eu e atrasar-te na cama quando tens de ir e chorar como um bebé quando finalmente vais e ver-me livre das baratas e comprar-te prendas que tu não queres e levá-las de volta outra vez e pedir-te em casamento e tu dizeres não outra vez mas eu continuar a pedir-te porque embora tu penses que eu não estou a falar a sério eu estou mesmo a falar a sério desde a primeira vez que te pedi e vaguear pela cidade pensando que ela está vazia sem ti e querer aquilo que queres e achar que me estou a perder mas saber que estou seguro contigo e contar-te o pior que há em mim e tentar dar-te o meu melhor porque não mereces menos e responder às tuas perguntas quando deveria não o fazer e dizer-te a verdade quando na verdade não o quero e tentar ser honesto porque sei que preferes assim e pensar que acabou tudo mas ficar agarrado a apenas mais dez minutos antes de me atirares para fora da tua vida e esquecer-me de quem eu sou e tentar chegar mais perto de ti porque é maravilhoso aprender a conhecer-te e vale bem o esforço e falar mau alemão contigo e pior ainda em hebreu e fazer amor contigo às três da manhã e de alguma maneira de alguma maneira de alguma maneira transmitir algum do, esmagador, imortal, irresistível, incondicional, abrangente,preenchedor,desafiante,contínuo e infindável amor que tenho por ti.

Sarah Kane

terça-feira, 6 de outubro de 2009





- Consegues ouvir o vento?

- Segreda-me apenas ...

apalpa ...

escuta ...

suspira ...

expira-me ...

... descreve-me .

[Secret@]




Sinto-me como se vivesse dentro de uma nuvem. Branca. Fecho os olhos e deixo-me arrastar. Pelo vento. É imprevisível o destino de uma nuvem. Pode dar várias vezes a volta ao globo. Ou desfazer-se de encontro à montanha mais próxima. Mas isso em nada parece afectá-las. Afectar-me. Vivo dentro de uma nuvem. Cujo destino é vaguear. E cujos limites é não haver limites.


Jorge Sousa Braga

segunda-feira, 5 de outubro de 2009



Serei incansável, lutarei contra as forças que me vão faltando, vou suster as lágrimas e pensar que o nó na garganta não existe . Vou voar , voar ate ti , na certeza de cair no teu colo, tornar-me por instantes ilusionista e acreditar na esperança, que a esperança seja portas e janelas onde eu possa entrar.
Aceito descalça atravessar o deserto. Aceito proteger-te do frio, proteger-te dos ventos, mesmo que o caminho possa ser incerto...
... aceito . [Secret@
]


"Se estivesses aqui, agora mesmo, seguramente estaria a violar os botões da tua roupa com os meus dedos ansiosos para tocar o teu corpo, aquece-los na tua pele e misturá-los com o teu cheiro. Não estás, mas estou a imaginar-te.
Retrato-te com vida, com movimento e palavras: as tuas obscenas insinuações, a tua desmedida imaginação sempre por detrás da língua. Os teus olhos são capazes por si só de violar qualquer mulher, de penetrá-la até ao rubor, de tão lascivos que se tornam.
Basta segurares-me pelas ancas para começar o incêndio. Sinto-me a perder o equilíbrio, tão cheia de tonturas fico, com as tuas ameaças doces e obscenas.
O quê?... diz isso outra vez...


Pedro Paixão - "A noiva judia"

sexta-feira, 2 de outubro de 2009


As indecisões baralham-me a busca de um dia perfeito. [Secret@]


O que desejei às vezes
Diante do teu olhar,
Diante da tua boca!

Quase que choro de pena
Medindo aquela ansiedade
Pela de hoje que é tão pouca!

Tão pouca que nem existe!

De tudo quanto nós fomos,
Apenas sei que sou triste.

António Brotto