segunda-feira, 25 de janeiro de 2010





Sento-me nas palavras, afasto uma a uma com a ponta dos dedos para o fim de uma pagina. 
Rasgo a loucura, guardo as marcas antes que as encontres, risco com o lápis as palavras mais luminosas para o impossível que éramos. Queimo a mentira, aquela que me fez comer sonhos, que me fez fazer braços de estrelas.Fecho-o e guardo-o na biblioteca  sem mais querer ler ou ouvir o fantasma que me visitou e me abandonou em silencio. [Secret@]

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010



...  não, tu não queres.
Tu só desejas


Vês-me?
por um momento que seja,
consegues?

[Secret@]



Como eram ambos jovens e se moviam ainda às cegas nas
franjas dos seus próprios desejos, a dança que faziam juntos não
era uma dança em que tomavam posse um do outro, mas uma
espécie de minuete, cujo objectivo consistia não em apropriar-se,
não em agarrar, não em tocar, mas em permitir que o máximo de
espaço e distância fluísse entre eles. Mover-se em sintonia, sem
colisões, sem se fundirem. Descrever circulos, fazer vénias em
sinal de devoção, rir dos mesmos absurdos, troçar dos seus próprios
movimentos, lançar sobre as paredes sombras gémeas que nunca
se tornariam uma só. Dançar em redor desse perigo: o perigo de
se tornarem um só! Dançar confinando-se cada um ao seu próprio
caminho. Permitir o paralelismo, mas sem que um se perdesse
dentro do outro. Brincar ao casamento, a par e passo, ler o mesmo
livro juntos, dançar uma dança de evasão na orla do desejo, per-
manecer dentro de círculos de luz sublimada, sem tocar no âma-
go que deitaria fogo ao circulo.
 

Uma hábil dança de não-posse.

Anaïs Nin

sábado, 16 de janeiro de 2010






Voltei mas não sou eu que escrevo, não me sinto. Sou um corpo que sente um arrepio, uma vertigem. Sou quem sente a dor , quem pouco ou nada vê da lucidez. Sou quem sente um pavor no coração, sou quem se sente embriagada de insanidade ... sou quem não conheço ser .
Sou ...  [Secret@]




(...) corri para o telefone mas não me lembrava do teu número
queria apenas ouvir a tua voz
contar-te o sonho que tive ontem e me aterrorizou
queria dizer-te por que parto
por que amo
ouvir-te perguntar quem fala?
e faltar-me a coragem para responder e desligar
depois caminhei como uma fera enfurecida pela casa
a noite tornou-se patética sem ti
não tinha sentido pensar em ti e não sair a correr para a rua
procurar-te imediatamente
correr a cidade duma ponta a outra
só para te dizer boa noite ou talvez tocar-te
e morrer

(...)



Al Berto