segunda-feira, 2 de março de 2009



A noite, o tempo... enquanto fumo, acrescenta-se uma raiva, revolta, desilusão.
... um dia vou-me encontrar, há razoes que me fazem ficar, não sei porquê, o que me prende. Não tenho noção da dimensão, da consequência, mas tudo tem sentido em tudo o que sinto. Aproprio-me da minha angustia, sozinha caminhando por cada pedaço de calçada para que cautelosamente consiga sentir-me firme. Não posso, não devo olhar para trás, doí, doí muito. Quero correr em frente e gritar, gritar, gritar ... onde na verdade me apetecia dizer eu amo, onde somente quero que continue em mim, que me sinta para qualquer parte que vá. Não pode, não quero que me esqueça sendo certo que um dia acabaremos esmagados, vencidos pelo cansaço, definitivamente separados.



Muito cedo
na minha vida foi tarde de mais. Aos dezoito anos era já tarde demais. Entre os dezoito e os vinte e cinco anos o meu rosto partiu numa direcção imprevista. Aos dezoito anos envelheci
. Não sei se é assim com toda a gente, nunca perguntei. Parece-me ter ouvido falar dessa aceleração do tempo que nos fere por vezes quando atravessamos as idades mais jovens, mais celebradas da vida. Este envelhecimento foi brutal. Vi-o apoderar-se dos meus traços um a um, alterar a relação que havia entre eles, tornar os olhos maiores, o olhar mais triste, a boca mais definitiva, marcar a fronte de fendas profundas.(...)

O Amante- Marguerite Duras

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