quarta-feira, 29 de abril de 2009


Voltaste com a força da madrugada. Entre o escuro procurei arrancar as lembranças do meu corpo. Tenho a sensibilidade á flor da pele, renasço de um cheiro já sentido e gasto tornado-se pequeno o espaço, entre mim e o reflexo do teu olhar. Voltaste ...
À procura de um lugar. Pertence-te. Deixa-me apenas tocar, entregar-me, soltar-me e mostrar-te, insinuar-me para que entendas mesmo no escuro, sem som e sem gesto, sem pressas e sem promessas, que sou somente e apenas tua. Agora podes ir embora...

"Porque não estás aqui?" Era a sua pergunta sem destinatário concreto ou conhecido, feita ao vazio e no vazio, na consciência de que nunca ninguém estaria ali, de que ali nunca haveria ninguém para vir ter com ela num tempo menos efémero, que a sua ruptura da noite teria de se fazer como até então, ao sabor das fomes repentinas e de encontros avulsos, de insatisfações permanentes e de aventuras sem compromisso, de fulgores precários e de breves epifanias, como as do fogo-de-artifício a enredarem-se no fio de Ariane interminável que ela assim desenrolava no seu próprio labirinto e nunca a nada a poderia prendê-la e nunca ninguém haveria de indicar qualquer espécie de caminho que lhe dissesse respeito.
Foi o fim da madrugada, quando tomava o chocolate quente da praxe com os Silveira Pimentel, que Monique decidiu que afinal ficaria no Porto e que no Porto passaria a ser o seu tédio e a sua solidão insatisfeita.

Vasco Graça Moura

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