quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010





Despia-me para ti agora, pela necessidade de dar-me, para contrariar a ideia de que já não te pertenço. [Secret@]


“Ele tirou a roupa com elegância e o seu corpo nu era bem a prova da existência do Deus que criou o homem ao sétimo dia e descansou. Olhou-a sem a tocar e disse, tira a pulseira, os brincos, esse fio de ouro, quero-te nua, estás cheia de símbolos de classe social e agora não és nada disso, és um bicho soberbo, felino, em pleno cio. Ela obedeceu sem tirar os olhos dos seus olhos daquele dia, e ele procurou a boca dela pelo caminho das coxas, do ventre, dos seios, dos olhos, das orelhas, purificou-se na humidade dos lábios, disse palavras tontas, cântaro, barco à vela, fada, gueixa, camélia, tangerina, iniciou o caminho de volta enquanto as mãos ensaiavam voos de gaivota pela praia, pelos ombros, as costas, as nádegas, e os dedos festejavam e dizia palavras. E o corpo dela de tocaria suspenso entre o céu e a terra, oferecendo-se àquela língua sábia, enquanto o coração, ai dele, se afogava em marés ilimitadas. A sua branca, feminina garganta navegou em todos os cambiantes do murmúrio e do grito, e na hora vermelha, solta de todas as amarras, ouviu-se dizer palavras espantosas, morde-me, inunda-me, mata-me, quero que todos saibam que sou a tua coisa, a tua fêmea, ai.”


Os pássaros de seda - Rosa Lobato Faria


4 comentários:

salgados disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
whatelse disse...

Bonita 'homenagem'.

Gostei. *

Mary Jane disse...

Um beijo para ti e outro para a "Rosinha", que descanse em paz!

João Casanova disse...

Mulher.