domingo, 16 de novembro de 2008


Deixava-se ir como ele lhe pedira ... crescendo todos os dias um bocado, matando interiormente tudo aquilo que crescera e se tornara para ela algo jamais indestrutível...mas no fundo o medo persegue-a. Sorri sempre que lhe dá na gana, com ou sem motivo reage ao que lhe roubaram, pensa que pode ser louca ... ao não conseguir reagir ao NÃO ... é o NÃO que mais despreza a face do planeta. Recorda todos os dias entre mãos suadas, frio na barriga entre um nó na garganta difícil de digerir, aquele rosto, de cara fechada, uma voz fria, um acenar de mãos grossas acompanhado por um NÃO dito, ainda antes de entender a que é que diz NÃO. Apenas lhe dava raiva, tristeza, com vontade de desistir da paciência, de inspirar fundo de ir embora enquanto num virar de costas lhe corriam as lágrimas, apenas enchia o peito de ar e limitava-se a dar mais um passo, um passo para o futuro, aquele que ele lhe sugeriu para que apanhasse assim que surgisse a primeira oportunidade . Apenas lhe perguntava :
- " E agora? Vais dizer NÃO a quê?"
- " Posso perguntar-te...?"
A resposta seria sempre...
- " NÃO! NÃO, NÃO..."
A partir daí seria sempre NÃO . O primeiro foi o mais decisivo, aquele que a fez desmoronar, os seguintes, apenas são palavras repetitivas ... e constantemente ditas de uma voz calma, gesticuladas por umas mãos grossas, reflectidas numa cara fechada, ditas por uma pessoa fria.
... mas lutava, e ....
- " Mas e ... "
- " NÃO! NÃO, NÃO "
- " E se eu ... "
- " NÃO! NÃO, NÃO "
... Apenas engole um suspiro reprime um soluço... apenas lhe passará por instante uma curta metragem de momentos e confissões, desabafos e devaneios Como poderia dizer NÃO a tudo o lhe transmitia felicidade, a tudo aquilo que lhe permitia ser o que na realidade é ? ... Como poderia dizer NÃO ... era proibido ... não existia ... era uma regra... Construiu-se um jogo, um jogo sentido, um jogo falado... o que resta agora ...
... pergunta-se ela todos os dias ...
- " Mas e tu ... Amas? "
- " NÃO sei, NÃO interessa, NÃO o saberás"
- " Mas ... um dia voltarás? "
- " NÃO! NÃO, NÃO"

-

Sem comentários: