quarta-feira, 11 de março de 2009



Ansiosamente aguardava a tua chegada. Não sei o que me invadia naqueles minutos de espera, a insegurança do querer e do não querer, o medo de reavivar o passado, de não poder corresponder ao teu sorriso como antigamente onde facilmente me o roubavas. Num bater de perna entre mãos suadas abria e fechava a revista. Não sei se o abraço, se lhe sorrio apenas. Beijo-o?... ou apenas o abraço? Não sei, tenho medo de reagir à fraqueza, medo de reagir como sempre a aquilo que amo, medo pelo simples medo de ter medo. Ouço ao longe a tua vinda, cada vez mais perto. Ansiosa por te ver ponho-me em bicos dos pés e procuro-te entre todas aquelas pessoas, não te vejo ... olho, penso, acendo um cigarro... quando te consigo alcançar. Era tanta a vontade de te dizer: -Tenho imensas saudades tuas.
Mas ficou ali, entre a carne e a pele, formando um nó que me impediu de te o dizer... que se transformou em outro assunto qualquer para que aquele momento fosse tão diferente do que era habitual.
Estava feliz, sentir de novo o teu cheiro, olhar-te novamente nos olhos ... oferecer-te aquele sorriso que era escusado me o roubares. Passar a minha mão pela tua pele, passear os meus dedos pelo teu cabelo, andar lado lado... Sentia apenas a tua mudança dentro do meu peito, uma dor que teimava em me apertar, fora isso, estavas ali bem ao meu lado igual como sempre, desde o antigamente.
Entraste naquele onde nos compreendemos, onde a igualdade faz parte de nós, onde somos apenas um. Estava ansiosa, desejosa ... o prazer começava a tomar conta de mim. aquelas poses, o teu olhar começavam a excitar a minha fome de ti. Finalmente o toque ...
As tuas mão, a tua pele ... o teu cheiro. Queria apenas sentir a tua força onde me deixas louca entre toques de lábios, onde me dizes as palavras que nos une, apertas, mordes e magoas. A chama está visivelmente intensa, peço-te apenas que assines com teu cheiro, deixando a marca de que te pertenço, entre duvidas confesso-te: - Sou tua.
Com uma fome insaciável, engulo cada pedaço teu, levianamente quero mais, desejo mais, ordeno-te mais... entreguei-me despejadamente, absolutamente tua.
... Ao fim de mais um dia, persiste o enigma. Deixo-te ir, ao entrares por aquela porta de comboio surgiu uma vontade de te dizer, mas diante do ser que tem que ser, disse-te em silencio, eu amo-te.

Lembro-me agora que tenho de marcar um encontro contigo, num sítio em que ambos nos possamos falar, de facto, sem que nenhuma das ocorrências da vida venha interferir no que temos para nos dizer. Muitas vezes me lembrei de que esse sítio podia ser, até, um lugar sem nada de especial, como um canto de café, em frente de um espelho que poderia servir de pretexto para reflectir a alma, a impressão da tarde, o último estertor do dia antes de nos despedirmos, quando é preciso encontrar uma fórmula que disfarce o que, afinal, não conseguimos dizer. É que o amor nem sempre é uma palavra de uso, aquela que permite a passagem à comunicação mais exacta de dois seres, a não ser que nos fale, de súbito, o sentido da despedida, e que cada um de nós leve, consigo, o outro, deixando atrás de si o próprio ser, como se uma troca de almas fosse possível neste mundo. Então, é natural que voltes atrás e me peças: Vem comigo!, e devo dizer-te que muitas vezes pensei em fazer isso mesmo, mas era tarde, isto é, a porta tinha-se fechado até outro dia, que é aquele que acaba por nunca chegar, e então as palavras caem no vazio, como se nunca tivessem sido pensadas. No entanto, ao escrever-te para marcar um encontro contigo, sei que é irremediável o que temos para dizer um ao outro: a confissão mais exacta, que é também a mais absurda, de um sentimento; e, por trás disso, de que o mundo há-de ser outro no dia seguinte, como se o amor, de facto, pudesse mudar as cores do céu, do mar, da terra, e do próprio dia em que nos vamos encontrar, que há-de ser um dia azul, de verão, em que o vento poderá soprar do norte, como se fosse daí que viessem, nesta altura, as coisas mais precisas, que são as nossas: o verde das folhas e o amarelo das pétalas, o vermelho do sol e o branco dos muros.

Nuno Júdice




2 comentários:

Anónimo disse...

E como foram os dias depois do comboio?
Joana

Secret@ disse...

Começaram a ganhar Cor ...

Beijo