terça-feira, 17 de março de 2009





Deslizo entre o fumo, em espaços infindáveis, respiro-o em encontros breves num contacto quase leve. Cria-se à minha volta um esboço, memorias que se espalham em lágrimas dando cor a um futuro cheio de mistérios. Decifra-se entre o preto e o cinza o passado que deixamos, sem saudades, evapora-se. Preencho-me de mim, ganho vida, ganho cor ... Cuidadosamente aprendo-te a gostar, inventas-te um fim, dei inicio a um principio sem nunca perder os sinais. Deixo-me guiar, multiplico os vícios, consomes-me a rejeição... incapaz de fugir ... entrego-me à cor, entrego-me a ti, cuidadosamente ... vivo de novo a tua paixão.




Ontem às onze fumaste um cigarro, encontrei-te sentado ficámos para perder todos os teus eléctricos, os meus estavam perdidos por natureza própria. Andámos dez quilómetros a pé, ninguém nos viu passar excepto claro os porteiros, é da natureza das coisas ser-se visto pelos porteiros. Olha como só tu sabes olhar, a rua, os costumes, O Público o vinco das tuas calças está cheio de frio e há quatro mil pessoas interessadas nisso. Não faz mal abracem-me os teus olhos de extremo a extremo, azuis vai ser assim durante muito tempo decorrerão muitos séculos antes de nós, mas não te importes,, não te importes muito nós só temos a ver com o presente perfeito corsários de olhos de gato intransponível maravilhados, maravilhosos únicos, nem pretérito nem futuro tem o estranho verbo nosso.

Mário Cesariny


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