sexta-feira, 8 de maio de 2009


O cansaço apodera-se dos dias. As esperas tornam-se silenciosas, um dia a boca há-de rasgar todo o meu silencio, onde no limite poderei cicatrizar todas as minhas feridas cravadas na pele. Tornamos-nos cinza, inventam-se segredos por dentro, mastigam-se palavras, comem-se as angústias.
Insisto em calar os sonhos ... em meter o mundo de parte ... não sei bem porque o faço, mas as fendas serão fechadas e nelas sepultadas os fantasmas que abriram um dia as cicatrizes diárias do meu peito.
Aproxima-se uma morte prematura.

... Esta noite, bêbada de desgosto, deixo-me cair sobre a cama com os gestos de uma afogada que se abandona: cedo ao sono como à asfixia...A cada momento, os meus joelhos batem um no outro à tua lembrança.O frio acorda-me, como se me tivesse deitado ao lado de um morto.


Marguerite Yourcenar-Fogos


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